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Channel: Parfumée

50 tons de excesso - S. Excès Femme Eudora - Resenha

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Um calor de brasa acesa - esta é a primeira imagem que me vem à mente ao pensar nesta fragrância. É corajosa, é grande e superlativa. Isso porque difere de todas as tendências de mercado nacional, em sua ousadia de combinar poucas notas em uníssono. Oud, íris e madeira - só. 
Tem algo animálico e enfumaçado, um aroma humano e carnal, sexy mesmo, sem nenhuma pretensão de ser ingênuo ou inocente, é sedução escancarada e puramente boudoir. Essa ousadia precisa de ambiente e ocasião para ser revelada, como a própria proposta da linha S da Eudora. São produtos voltados à arte de seduzir, de usar a dois.
Abre em oud, forte, impactante - quase masculino. Tem alma resinosa, quente, como vela escorrendo e vapores abafados. A primeira borrifada pode assustar, porque não faz nenhum devaneio ao seu destino, o recado é dado logo de cara. 
É uma sedução de roupa espalhada pelo chão, aquelas cenas de filme bem exageradas que o casal não consegue esperar e vai loucamente se esparramando pelo caminho, que borra batom, que saltam botões e tudo vira um emaranhado de pele. Não é lingerie preta e pérolas, não tem espera e joguinhos de sedução, não tem lençóis de cetim e meia luz, está mais para um ritual de acasalamento digno de Discovery Channel - só que entre quatro paredes. 
Tem um patchouli 'sujo' ali, ah se tem. Úmido, terroso, suado e orgânico. Flor viva - ora, o que é a flor se não um receptáculo fértil em sua função reprodutiva? Fumaça, calor, madeira seca e íris talcada. Humano e febril. 
Talvez a sua ousadia o tenha tirado dos catálogos - corri garantir o meu assim que soube que sairia de linha. Mas quem sabe a Eudora não resolve fazer um revival, hein?
Fixação excelente graças à sua alma resinosa, projeção intensa nos primeiros momentos que se mantém ao longo de 9 horas ou mais. 

Touch me like you do!




Complicada e Perfeitinha - Natura Luna Desodorante Colônia - Resenha

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Tenho fases, como a lua. 
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua... 

O acorde chypre. Como é belo, em sua natureza verde e intrigante. Como é bela a lua nova, misterioso sorriso pousado sobre crepúsculo ao lado da Vênus que cintila, um rastro da face à mostra enquanto o todo dá as costas à Terra. Um recolhimento doce, como frutas silvestres, maçãs e mel de madressilva. Vento outonal em sépia, Luna abre em frutas agridoces e citrinos cintilantes. 

Fases que vão e vêm, 
no secreto calendário 
que um astrólogo arbitrário 
inventou para meu uso.

Florais, esses são lindos! Lua crescente que cruza os céus da madrugada à manhã. Rosas primaveris, violetas, amores-perfeitos e delicados jasmins. Cachoeiras de pétalas a cair pelos cachos, botões se abrindo nas manhãs de setembro. Beleza espontânea de natureza que se multiplica e se renova. Uma fragrância feminina como as flores primaveris, Luna tem esta face de encanto juvenil e cândido.

Perdição da vida minha! 
Tenho fases de ser tua, 
tenho outras de ser sozinha.

Lua cheia de verão. Mata fechada exalando mistérios e mormaços. Natureza feminina que instiga e convida ao calor. Absoluta no céu, apaga estrelas e lança sobre os enamorados seu banho de prata. Folhagens e baunilhas tropicais que atordoam sentidos. Coração cálido que bate entre curvas sinuosas do colo que instiga. As notas de corpo são sedutoras e adocicadas, que mantém uma aura verde e natural caudalosa.

E roda a melancolia 
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém 
(tenho fases como a lua...)

Recolhimento e desfecho. Lua minguante fugidia, que esfria ânimos e amores. Musgos e patchouli na noite úmida e fria de inverno que promete geada. Zéfiro que balança os cabelos e carrega o aroma das raízes expostas e galhos despidos dos cedros e plátanos. Luna mantém sua alma de chypre floral moderno até seu drydown, em madeiras e tons musgosos amaciados por gentil almiscarado.

No dia de alguém ser meu 
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia, 
o outro desapareceu...

Como o arquétipo feminino da Lua, Luna tem suas fases, ora suaves acordes florais, ora suculento com frutal, passando do terroso/herbáceo ao amadeirado-almiscarado. Uma bela fragrância para mulheres radiantes e confiantes, que seduzem ao abraçar cada uma das suas faces. Mulheres têm fases, e cada uma delas tem sua beleza, sua força e seu mistério. Apenas quem é suficientemente atento está autorizado a desvendá-las. 

Complicada e perfeitinha, você apareceu.





Referências: Cecília Meirelles: Lua Adversa
Raimundos: Mulher de Fases (quem viveu nos anos 90 sabe do que estou falando!)    

Imagem: natura.net

Abraça-me com ternura - Kenzo Amour EDP - Resenha

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Hoje me dei conta que nunca falei desse lindo, e olha que está no meu top 5! Como assim? Como fui esquecer esse travesseirinho, esse aconchego adocicado? 
Kenzo Amour é macio, sem nenhuma aresta. Morninho. É um tacho de arroz-doce apurando no fogo de lenha, carinho de vovó que mima. Uma criação tão singular, tão sem par. 
Tem uma abertura empoada de arroz - isso mesmo, arroz! - chá e algo lactônico e cremoso, que apesar de ter doçura, traz mais uma sensação de cremosidade, de sabor suave e levemente condimentado, como canela fervida ou uma pitada de noz-moscada. 
No corpo, possui a nobreza de flores brancas, igualmente untuosas, amanteigadas - pluméria, sakura e acácias - e encerra na secagem com nobres madeiras incensadas, baunilha, musc e notas atalcadas, uma nuvem de talco sequinho e empoado. É de uma nobreza, uma distinção... uma das fragrâncias que me desperta as melhores sensações, que não é incômoda, não é invasiva, é um verdadeiro abraço carinhoso, um afago. 
É um EDP, mas sem grandes arroubos de projeção, já que sua proposta é intimista. Porém, tem uma duração muito longeva, rente à pele e comedida. Um conforto especial, com a criatividade que as fragrâncias Kenzo sempre trazem, não sendo óbvio, mas ao mesmo tempo não gritando por atenção. O frasco belíssimo de autoria de Karim Rashid é uma criação digna de museus de arte contemporânea, que vale a pena ostentar na prateleira. 



Imagem: kenzoparfums.com

Sob o Sol da Toscana - Floratta L'Amore d'O Boticário Deo Colônia - Resenha

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Pega a pipoquinha, coloca o pijaminha e vem assistir filme água-com-açúcar comigo! Se tem filminho gostoso, para esquecer perrengues e tristezas, para pensar em uma volta por cima nessa vida de reveses é Sob o Sol da Toscana. Assistir a Frances se reinventar em um cenário esplêndido, de campos floridos e luzes douradas, refresca a alma e deixa o dia mais leve. 
Hoje testei o lançamento d'O Boticário Floratta L'Amore e imediatamente senti os ares da Toscana, mas o momento mais impactante foi a entrada, o cítrico adocicado de limão siciliano do acorde de Limoncello. No filme, o gatíssimo Marcello (interpretado pelo impecável Raoul Bova - que espetáculo de ator!) dá a receita do tradicional Limoncello em Positano: vodka, limões e açúcar. Essa receitinha fofa aqui:


Bom, Floratta L'Amore tem um acorde cítrico/adocicado/frutado logo na entrada, um espirro de sumo de limão siciliano que borbulha no nariz, mas com doçura, diferentemente dos tradicionais limões das colônias (Roger Gallet Jean Marie Farina, 4711 e congêneres). Tem um quê crocante e suculento de peras e maçãs-verdes, um caldo de frutas maduras - pêssegos, damascos, tangerinas - e um fizz mais azedinho, simultaneamente. 
Cresce em flores brancas de jardim, um coração florido de primavera, delicado e mimoso. E ainda persiste uma doçura de mel de pedúnculo, uma sensação adocicada e levemente alcoólica, ao qual provavelmente a marca tentou imprimir sua receita de limoncello. Funciona de maneira breve, em flashes entremeados às flores. Ao final, o musgo amadeirado/musky, tipicamente O Boticário, indefectível entre as criações da marca, que fica um pouco sabonetinho, shampoo ou produto de banho, para dar a cara limpinha e asseada, terminando a fragrância de forma bem suave e linear.



Projeção: Intensa na primeira hora, porém duração um tanto efêmera. Em mim, durou três horas, e nas duas finais com uma aura floral bem rente à pele. Há que se considerar dois fatores para esta característica: seu perfil cítrico e o fato de ser uma deo colônia. Uma vez que é o lançamento para a primavera que se avizinha, acredito que seja uma proposta adequada para dias de calor. Como o affair de Frances e Marcello - durou exatamente o que havia de durar. 




Oh, Popeye... Me salve!!! - Cheap and Chic de Moschino EDT - Resenha

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Alô alô amigas do floral e simpatizantes dos acordes amadeirados, venham conhecer essa fragrância que não está no gibi! Uma bela anedota na hora certa, que arranca risadinhas e piscadelas, mas também sabe ser esperta e decidida quando precisa. Cheap and Chic, em sua ironia do DNA Moschino celebra uma ousadia jovem e bem posicionada, de cores vibrantes e escuras, um contraste entre o tom de moça coquete e tom femme fatale. Tudo isso construído em sólidas bases de madeira nobre, almíscar e uma pontinha de tabaco... hummmm!
Tem abertura floral picante, peônias em profusão, cítricos azedinhos e algo meio tinto, como sumo ou seiva de madeira ainda viva. Um desaforo às narinas na primeira borrifada - saído de um frasco para lá de inusitado que já virou metonímia: quem nunca ouviu falar do perfume "Olívia Palito"?
Com o tempo, ganha mais substância com rosas misteriosas, adultas e assabonetadas, como aroma de produtos de beleza um pouco vintage, talco ou maquilagem, além de flores brancas narcóticas. Cresce em uma dimensão mais horizontal, que vai perdendo em projeção e ganhando em mistério, ficando cada vez mais facetado e mais rente à pele.
As notas finais sugerem um interessante mix de ambargris, almíscar e fava tonka em sua carinha mais 'suja', escurecida e enfumaçada, o que pode dar alguns traços de tabaco de cachimbo, com seu quê adocicado, com camadas de alguma flor misteriosa e noturna - seria rosa negra? Orquídeas phalaenopsis? Cravo vermelho? É justamente neste mistério que está o encanto de Cheap and Chic, a ironia de ser simples e grandioso.
Um curinga de prateleira, para quem quer uma proposta sexy, jovem e que transmita elegância e atitude. Fixação excelente e projeção moderada, que valem o investimento.
Popeye, faça alguma coisa!!!


Honey honey, touch me baby! - Prélude S Deocolônia Eudora - Resenha

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Honey honey, how you thrill me, ah, honey honey


A música é do ABBA. Sim, do ABBA, me julgue! Relutei em usar essa referência do cafona-kitsch, mas eu confesso que curtir ABBA é um dos meus guilty pleasures - quem nunca? Então, ao invés de me render ao apelo marketeiro da Eudora, em querer empurrar o Prélude S como uma fragrância sensual, eu vou mais para essa coisa divertida da musiquinha 70's que fala de conquista, de beijinhos e de docinhos do que qualquer coisa voltada às lingeries e lençóis de cetim. Porque é, oras!

A marca o classifica como "Oriental Gourmand", com notas lactônicas, mel e amadeirado/musk. É isso? É. Mas não é. Complicado hein...

Na primeira borrifada - boom! Mel, puro mel, vítreo, viscoso, doce. Lembra das balinhas Kid's de mel? Tá aí.



Lembra dessa balinha malandra? A Eudora engarrafou no Prélude S.


Bala de mel. Transparente e cristalino. Não tem cremosidade de leite, adição de especiarias. É mel. Pelo menos para mim. É extremamente linear, começa e termina em mel, daqueles dos mini-pacotinhos que se juntavam em fitas - isso também deve ser lá dos tempos do ABBA!

 

É sexy? Sim, daquela maneira mais sapeca, que é docinho, mexe com o paladar. Fora daquele sexy arrasa-quarteirão. É super feminino, e, por mais que tenha corpo e alma gourmand, é extremamente confortável. Talvez até mesmo por ser linear, sem surpresas. O mel de favo, sem aquela coisa meio balsâmica de própolis, resina, xarope... que não é tão fácil de agradar.

Faz a linha Pink Sugar, de ser uma expressão gustativa em forma de perfume, esperto na sua simplicidade e alegria. Combina com climas amenos, mas não chega a desandar no calor, só tem que dosar as borrifadas.

Fixa muito bem - para deocolônia então, nem se fala - coisa de oito horas mesmo! Projeta nas primeiras duas, três horas, mas depois repousa como uma aura doce perfumada.



Honey honey, hold me baby, ah, honey honey!






Imagem: loja.eudora.com.br

Paixão Art Déco - LouLou de Cacharel Eau de Parfum - Resenha

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Um trintão cheio de pose e respeito. Criação Cacharel que se preza, ame ou odeie, no mesmo caminho difícil de Eden. A sobreposição de camadas e mais camadas, um contraste entre notas brilhantes e estridentes e acordes escuros e misteriosos. Uma ode aos anos loucos e ao excesso. 
LouLou é de 1987, então tava no contexto da ombreira, do dourado e do visual carregado de informação. A proposta inicial seria uma homenagem à Louise Brooks, musa do cinema mudo que na vida real soltava o verbo e incomodava geral. Artista de alma, sem amarras e resistente aos estereótipos, sua morte ocorreu apenas dois anos antes do lançamento de LouLou - seria esta uma homenagem póstuma de Cacharel?
O que passa é: sim, LouLou é uma homenagem, é um perfumão. Um gosto de se dosar às borrifadas. 
Abre em flores grandes, potentes, violeta com cara de maquiagem e algo meio plástico, sintético - a famosa nota de "boneca nova" que muita gente tenta definir. Sua face seguinte conta com muita tuberosa, dama da noite, floral intoxicante e profuso, espiralado. Ao descer, lá pela terceira ou quarta hora - sim, estamos falando de horas! - ganha cremosidade e doçura balsâmica de heliotrópio e adocicado ylang-ylang, sexy, muito sexy. Da quinta hora em diante ganha contornos incensados e picantes, de canela em casca e sândalo - aquele sândalo das bolinhas aromatizadoras que eram vendidas antigamente. A partir daí ganha linearidade, mas ainda assim permanece em uma sinfonia de flores, vapores e tons intrigantes sintéticos "sabe-se lá o quê". 
É perfume de passar só na nuca ou nas costas, ou a famosa borrifada em nuvem. Não sou da patrulha do clima, use o que quiser quando quiser, mas no calor é capaz até que a própria pessoa não o aguente até o fim do dia. É meio malicioso, leva tempo a se acostumar, tem uma manha de Daisy Fay - a complicada paixão de Jay Gatsby. 
Quem usa (ou conhece alguém que usa) LouLou sabe que é perfume-assinatura, aquele que deixa tudo que a pessoa toca com um pouquinho do seu rastro. É uma obra de arte (déco?) em um pequenino frasco azul-turquesa e vermelho, que projeta e fixa como poucos. 



Alegria à la Folies Bergère - Bronze Perfume da Phebo Perfumaria - Resenha

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Há quem diga que nada é por acaso. Ultimamente tenho estudado muito sobre Art Déco, em razão de uma pós deliciosa em História da Arte. Se no post anterior falei dos excessos melindrosos de LouLou, agora vou falar de outra bela criação que honra os loucos anos 1920's, mas com mais Garbo (como adjetivo e substantivo). Bronze é reluzente, caloroso e festivo. Já abre em notas alcoólicas de rum, meio licoroso e doce, com toque bitter de bergamota e néroli. A borrifada em nuvem - elogios agora ao frasco e ao borrifador de efeito 'panache' - prenuncia muita festa, calor e dança. Como bom oriental, encontra contornos sensuais e adocicados em heliotrópio, calores de sândalo e um toque resinoso de guáiaco, enfumaçado e misterioso, feminino. Como um espetáculo teatral, cheio de personagens, figurinos, coreografias, Bronze se revela em um caminho complexo, com temas sobrepostos, mas cheios de harmonia e sentido. As notas de fundo dão o gran-finale gourmand: baunilha, fava-tonka, amêndoas e âmbar, quentes e convidativos, em um doce adulto longe dos bolinhos e confeitos. É uma criação nacional digna de aplausos, e a proposta da Phebo é mais que acertada.
Duração de 7 horas, denominado pela marca como Perfume, em uma bela apresentação de caixa e frasco de 100 ml. 





* Comprando um perfume nas lojas Phebo do Shopping Patio Batel (Curitiba) ou do Shopping Leblon (RJ), é possível personalizar o frasco com seu nome. Meu Bronze ficou um mimo, não?



Spring Fling - Love Lily Eau de Parfum D'O Boticário - Resenha

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Um baile de saias rodadas, coques esculturais, ponche geladinho e moços de smoking. Uma elegância romântica, coquete e comedida, mas deliciosamente agradável. Que troca convites para o chá das cinco, que organiza saraus e convescotes. Foi um espírito assim que encontrei no Love Lily. Um mimoso frasco rosa, com novo borrifador (o do primeiro Lily Essence gerou muita controvérsia e reclamação), e uma proposta delicada e floral. Parece que está havendo um "revival floral", não é mesmo?
A primeira borrifada prenuncia um caráter realmente floral com toques frutais delicados, de cítricos cristalinos e algo levemente adocicado, como nêspera. A seguir, uma névoa de pétalas, etéreas, com lírio, jasmim e muita rosa, em tintura, próxima à sensação fervilhante que as frutas vermelhas proporcionam, uma textura como aquele drink piscine, com espumante rosé. Mas logo vai ganhando densidade, e as pétalas ganham maior cremosidade, perdendo a cara de floral fresco para uma face mais resinosa, com sândalo e âmbar - muito suaves - e aquele indefectível musk d'O Boticário.
Boa aposta? Sim, mas não sei se é um floral totalmente inovador. Também tem um certo percurso na evolução que merece teste prévio, para que não haja arrependimento posterior. Se você é adepta(o) de florais românticos, é um lançamento nacional bastante fiel a essa proposta. 
Classificado como Eau de Parfum, em um dia extremamente quente e abafado durou cinco horas, com projeção intensa na primeira hora e meia.



Imagem feita por mim, ainda na loja (valeu Maiara!!!). Ainda posto a do meu, ok? Dêem um desconto para professora em fim de semestre ;) 

Açúcar, tempero e tudo que há de bom! - Lolita Lempicka de Lolita Lempicka EDP - Resenha

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Como a receita para fabricar meninas, Lolita Lempicka é um mimo! Junta açúcar, temperos e tudo que há de bom, numa sintonia maravilhosa, em que nada some ou aparece demais. Já vi pessoas definindo a poção da maçãzinha como "cheiro de Natal", "cheiro de fadinha" ou "cheiro de confeitaria". E pode ter todas essas leituras, basta perceber a qual nota está dando mais atenção.
É cheiro de Natal que passa pela sua cabeça? Talvez seja o alcaçuz, anis, cereja e pralinê? Aquela festa colorida de guloseimas, pinheiro, presentes e corre-corre, para muita gente tem um cheiro específico, feliz, que evoca memórias.
Se você é da turma do "reino encantado" de fadinhas, unicórnios e duendes, as notas florais tem um quê de jardim dos Sonhos de Uma Noite de Verão: violetas macias e empoadas de pirlimpimpim, heras folhosas, raízes sequinhas e flores de brejo, levinhas e etéreas.
Agora, se o delicioso mundo dos macarons e bolinhos te conquistou, deve ser a baunilha adocicada ou a fava tonka amendoada, um pouco enfumaçada, como receita no forno. Aquele aroma morninho vindo de uma cozinha... hummmm!
Acho uma das fragrâncias doces mais criativas e interessantes, não é aquele doce óbvio. Tem maciez, tem uma aura atalcada e caprichada, tem especiarias e acordes inusitados, fora do açúcar/caramelo puro. Um frasco primoroso e mais de vinte anos de sucesso.
Se você quer um abracinho doce e meigo, com cara de conto de fadas, duração prolongada e projeção comedida, apanhe esta maçã!



Leve brilho leve - Botica 214 Eaux de Parfum - Peônia e Apricot / Violeta e Sândalo / Jasmim e Patchouli - Resenhas

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Com a proposta de adicionar a perfumaria premium à marca, bem como celebrar a história d'O Boticário, foram lançadas recentemente as Eaux de Parfum Peônia e Apricot, Violeta e Sândalo  e Jasmim e Patchouli, com a denominação "Botica 214" - uma referência ao primeiro endereço da marca, em Curitiba, na década de 1970. Os frascos e caixas são primorosos, a apresentação impecável, e, no teste, cada uma das fragrâncias tem bastante distinção entre si. 

O primeiro que provei foi o "Peônia e Apricot". Abriu mais frutal que floral, frutas doces: pêssegos, damascos e ameixas maduros, com algo borbulhante e pétalas cristalinas. Passa para uma impressão melíflua e termina almiscarado, com toques assabonetados, mas mantém a alma frutada. Achei alguma semelhança com o Untold, da Elizabeth Arden.

"Violeta e Sândalo" surpreendentemente teve uma abertura bem pungente, o couro se sobressaiu logo de cara, algo meio químico. Foi descendo cada vez mais empoado, uma violeta meio talcada, e o sândalo ficou bem para o final, um pouco cremoso. Inicia um tanto estridente, mas vai ganhando maciez durante a evolução. 

Por fim, "Jasmim e Patchouli"é o mais floral de todos, muita flor mesmo, pétalas brancas e flores do charco, meio úmido e verde de início. Seu patchouli não é terroso ou achocolatado, é mais cremoso, com um toque de seiva, e ao final tem um amadeirado bem sutil. 




Sobre ser EDP: por não contar com cítricos, a projeção já se inicia baixa, comedida. A duração é bem rente à pele, e tem um caminho na evolução de cada um. Quem espera 'bombas' ao estilo de perfumes importados, não é esse o estilo. São Eaux de Parfum mais para o estilo Infusion d'Iris da Prada, Noa da Cacharel - nessa vibe. São bons sim, têm qualidade, apenas não são minha ideia de investimento na atualidade. Outro fator que pode ser decisivo: como são fáceis de agradar, podem ser uma linha boa para presentear. Apenas o "Violeta e Sândalo" tem facetas mais difíceis, que talvez seja mais melindroso para oferecer a alguém. 

Perfumes com sensação de limpeza

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Se perfumar no calor do verão brasileiro não é fácil. Primeiramente, porque o suor atrapalha tudo! Tem vezes que saímos do banho e não sabemos se estamos enxugando a água ou se já estamos suando novamente. Há quem prefira sair do banho com uma sensação geladinha. Há quem seja entusiasta dos atalcados powdery, para ter uma sensação sequinha (meu time!). E há quem use doces, pesados, gourmands, orientais e afins, sem se incomodar com o calor. O importante é ficar cheiroso(a). 
Fiz uma seleção dos meus limpinhos favoritos, alguns já resenhados, outros por resenhar. Em todos eles encontro uma confortável impressão de leveza, uma secura de talco que segura a transpiração, que tira o 'grude' todo, tão desagradável no tempo abafado. Não desandam no suor, não incomodam olfatos alheios e rendem muitos elogios. 



O Accordes Harmonia é um floral aldeídico maravilhoso, há quem diga que nem parece d'O Boticário, pois tem outra alma, algo fora da assinatura olfativa da marca. É limpo, cheiro de roupa lavada e engomada na lavanderia, cheio de compostura, e segura super bem em dias quentes. Fixa e projeta super bem, e tem um preço bem condizente com a realidade. Só o frasco que merecia um capricho maior... está meio datado, continua com uma carinha meio anos 90. Mas nada que desmereça sua qualidade e talento!

Glow by J.Lo é um clássico dos almiscarados, bem na vibe sabão/sabonete. É meio ame ou odeie, porque muitas pessoas o consideram ardido ou químico demais à primeira impressão. A evolução dele é ótima, porque mantém a limpeza, o aconchego fresh de roupa no varal. E não custa caro - raramente os celebs pegam pesado nas cifras, e tem para vender em todos os e-commerces!

Para conhecer as resenhas do Cacharel Noa, Mahogany Lavanda e Algodão, White Tea Elizabeth Arden, Prada Infusion D'Iris e Close GAP, só clicar nos links! 

Um grande beijo e aproveite muito o verão!



Repaginando!

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Ano novo, vida nova - quer clichê maior que esse? Mas é o clima do Parfumée!


2019 veio cheio de novidades:
- Identidade visual do blog renovada;
- Coluna mensal sobre perfumaria na Diva Mag (www.divamag.com.br)
- Finalmente um Instagram do blog para seguir (@parfumee.br), com fotos de minha autoria e algumas do talentosíssimo Nathan Anderson (@nathananderson), feitas com o maior carinho e capricho;
- Mais cursos e aprendizado no eixo sul (Foz e fronteira trinacional), centro-oeste (Campo Grande e Nova Andradina), além das idas mensais para SP para muito estudo.






Isso tudo sem largar o giz, porque a sala de aula ainda é meu palco e eu amo meus ursos de paixão. 

2018 foi um ano puxado, com muita adaptação, aprendizado e desafios. Teve uma pós em História da Arte feita com uma alegria sem igual, teve trabalho, viagem o tempo todo... Mas os perfumes ganharam uma nova atenção depois do curso da Perfumaria Paralela, e acho que a paixão toda renasceu. Providenciei identidade visual nova, alinhavei alguns projetos, e esse meu hobby está ganhando cada vez mais espaço em minha e vida e meu coração.

Adicione no insta, comente no blog, peça sua resenha, dê seus pitacos por aqui. Volta e meia teremos alguns posts sobre as fronteiras perfumadas - pretendo adicionar as do MS também - e as curiosidades da perfumaria, mais além das simples resenhas e descrições. Vamos aprender juntos e trocar muitas novidades desse universo maravilhoso. 

Um abraço perfumado!

P.



Se a vida te der limões... faça resenhas refrescantes!

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Escrevo em um dia que faz 38 graus à sombra. Nuvens espessas se formam no céu, mas não chove. O dia amanhece límpido, com o céu puro anil. Por volta do meio dia começam a se formar as nuvens, evaporando toda e qualquer água que encontram. O sol é implacável e em questão de segundos cresta a pele, o suor escorre... A vontade é tomar banho, muitos banhos. De mar, piscina, chuveiro, bacia, mangueira – o que for! Nessa hora só os cítricos salvam, não tem como pensar em frescor sem lembrar de uma bebida gelada à base de limão. Pensando nesse clima, montei o post de hoje, com sugestões refrescantes para se perfumar:

O primeiro escolhido foi o Eau des Minimes, da Le Couvent des Minimes. O arquétipo do cítrico com muito pomelo, lima, limão siciliano e ervas como artemísia, alecrim e cidró, finalizado por flor de laranjeira. O floral de fundo é meio empoadinho, meio violeta. Super compartilhável, com uma alma verdejante e feliz, combina com roupa de algodão e mesinha de bar!

Em seguida um nacional democrático, com uma linha completa para quem quer incrementar o banho – desde sabonete até o creme. Limão Siciliano da Perfumaria Phebo já virou queridinho de muita gente, até porque tem um toquezinho das fragrâncias infantis que tanto amamos quando pequenos. Novamente, cítricos cristalinos com ervas refrescantes – olha a artemísia e o alecrim aí de novo! Ele conta com uma alma de jardim, como jasmim de trepadeira, bergamota, e, claro – limão siciliano! Para finalizar, uma pimentinha esperta, almíscar fofinho e patchouli, porque bom brazuca ama um banho-de-cheiro!

Eu já falei brevemente do Burberry Weekend aqui. Esse é mais ladylike, mais floral, mais ainda assim tem cítrico gostoso e ervas frescas - tangerina e sálvia – flor de pessegueiro, jacinto e uma base musk bem confortável, para manter fresca e bem composta até o fim do dia!

E, por fim, o Dolce & Gabbana Light Blue, que dispensa maiores apresentações. Mas, se quiser conferir minhas impressões sobre ele, é só pegar aqui.





Taste of her cherry chapstick - Revlon Love is On EDT - Resenha

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I kissed a girl, I like it... Lembra quando a Katy Perry se fazia de rebelde e dizia que beijava garotas? Hoje vou falar de uma delicinha com sabor de beijinho de cereja, apaixonante, com ótimo custo/benefício, girlie sem ser bobinho! Eu acho um pecado o quanto Love is On é subestimado, talvez porque seu lançamento ficou atrelado ao coffret de maquiagem homônimo, que vinha com um batom em um tom vermelho também, lindo, lindo. Eu gosto das fragrâncias Revlon, desde o polêmico arrasa-quarteirão Charlie, enorme, potente e topetudo. Elas fixam super bem, têm criatividade e um apelo comercial bem interessante. Love is On é um doce sour, com frutas vermelhas, limão e 'a touch of' patchouli caramelado/achocolado - mas beeeem de leve. Eu tenho uma certa dificuldade com notas de frutas vermelhas, principalmente morango, groselhas e afins. Amor Amor da Cacharel, por exemplo, não rola comigo. Tentei, de verdade, mas passei adiante. Quando fica com aquela cara de Ki-Suco, xarope ou Bala 7 Belo, não tem jeito não. Mas nesse aqui elas são mais frescas, apesar de maduras, e não têm aquele quê sintético - muitas vezes intencional - que deixa grudento. O limão siciliano também tem seu papel de tirar esse doce todo, trazer uma cara cítrica/aromática, assim como boa sobremesa, que deve dosar algo entre o açúcar e o azedinho para equilibrar tudo e não enjoar. A evolução é muito tímida, ele começa e termina muito linear, só fica um pouquinho mais resinoso ao final, com patchouli naquela cara mais cremosa. É despretensioso, gostoso, combina mais com um período de fim de tarde ou noite, podendo ser até baladeiro. Super jovem e contente, esperto na medida certa. Fixação de 5 horas (é EDT) e projeção maior nas duas primeiras. 




Dolce far niente - Acqua di Parma Blu Mediterraneo Mandorlo di Sicilia - Resenha

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Esse é um querido do coração, a amêndoa mais curiosa e aveludada que conheci, com a impressão da amêndoa ainda crua, sem a crocância de torradinha, uma amêndoa com casca e tudo. Acqua di Parma Mandorlo di Sicilia, da coleção Blu Mediterraneo, tem toda a riqueza low profile da casa, uma riqueza sem etiquetas, que usa roupas de linho e se esconde em recônditos paradisíacos ao invés de buscar incessantemente holofotes. É uma fragrância refinada, mas rente à pele, gourmand, mas não pegajosa, delicada e ao mesmo tempo marcante. São as lições de um livro de etiqueta para bons anfitriões: seja uma presença tão agradável que todos façam questão de tê-lo por perto.
Como os bons amarettos italianos, é um doce bitter, com toques mentolados de anis e cascas de laranja, que enaltecem a amêndoa em seu aspecto oleoso, em um caminho balsâmico. Como o óleo que pinga lentamente, em gotas grossas e brilhantes. O anis é tempero para doces, que coloca uma dose de amargor e flashes picantes, e nesse caso, faz uma ponta adstringente para os acordes que o seguem: as frutas. Bem maduras, quase que com doçura de frutas cristalizadas, pêssegos do sul (aquele mais branquinho, com perfume menos doce, que na Argentina e Uruguai chamam durazno) e no conjunto vai me remetendo aos torrones natalinos, que têm amêndoas e frutas envoltas naquele doce marzipan abaunilhado. Ao final, algo que me lembrou um pouco um acorde emborrachado, mas de látex em seiva, viscoso, e o doce da baunilha bourbon, querida dos confeiteiros. Novamente, uma impressão cremosa/untuosa, que convida ao relaxamento e ao 'dolce far niente'. 


Olhai os lírios do campo - Baiser Volé de Cartier - Resenha

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Havia um tempo em que as flores possuíam significados, considerados quando alguém as portava ou presenteava. Peônias representavam a timidez para a moças cortejadas, que avisavam aos pretendentes que não estavam em busca de romance ao colocar uma peônia em seu penteado. Uma dama japonesa 'gentilmente' rejeitava um galanteador entregando a ele um crisântemo amarelo. Na corte francesa o amor-perfeito era um recado que a pessoa estava em seus pensamentos. Os lírios, na tradição católica representam a Virgem Maria, a pureza - de corpo e de alma. Uma flor alva, que seguidamente acompanhava as noivas ao altar, atestando sua castidade e amor sublime. Baiser Volé de Cartier traduz com precisão este lírio puro e cândido, como um beijo na tez de pêssego de uma jovem mademoiselle. 
O primor do frasco, seu borrifador delicado acoplado à tampa, um vidro de linhas limpas, e ao mesmo tempo sólido, o líquido levemente rosado, acertadamente antecipam a fragrância cujo requinte se sustenta na pureza dos lírios. Balouçantes lírios no campo, seus caules verdes vergando-se ao sabor do vento, a sensação empoada do pólen desprendendo-se dos pistilos. 
Abre verdejante, floral branco permeado por citrinos e seivas. Quase um solinote, que de maneira muito particular explora a evolução da própria flor em suas variadas facetas. Inicia em lírio em pétala, no aroma viçoso da flor recém colhida, transforma-se em lírio recendente de bouquet, levemente amargo, e acalma na pele em flor atalcada, do lírio da nobreza, a flor de lis de dauphines da França. 
É a sofisticação do puro e simples, mas nada monótono, que recorda uma distinção de tempos outros, de segredos ao pé do ouvido, de cartas de caligrafia caprichada e olhares furtivos cruzados entre salas de banquetes.





Olhai para os lírios do campo, como eles crescem; não trabalham nem fiam (Mt, 6:28). Os lírios de Baiser Volé exalam apenas a pureza de tempos idos, que esvaíram-se no paradoxo encurtamento da distância que cada vez mais afasta os corações.


Delicada delícia - Oriental Zara EDT - Resenha

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Na onda do "vale o quanto pesa", a Zara vem conquistando fieis súditos com suas fragrâncias bem elaboradas, com preço justo. Oriental é um bouquet floral delicado, respingado por gotas de bergamota madura, emergido em calda de caramelo, um caramelo cremoso e abaunilhado, adicionado de uma pitadinha enfumaçada leve e sutil. 
Quando falamos de orientais, pensamos em verdadeiras bombas arrasa-quarteirão - vide Opium, Shalimar, Samsara e todos os condimentados balsâmicos aos quais nossos narizes estão habituados. Aqui o tom oriental é mais na inspiração, nos vapores mornos e adocicados, na madeira resinosa de fundo. Não tem toneladas de especiarias, devaneios de cardamomo, cravo, nardo ou canela. São favas de baunilha fervidas, que acolhem rosas, jasmins e patchouli vívido, uma calda em fogo brando antes do ponto de bala. 
Tem conforto de fragrância adocicada, mas como se define atualmente, é "doce adulto", feminilidade de mulher segura e feliz consigo mesma. Algo me remeteu ao belo Tocade de Rochas (que merece resenha própria, na versão vintage que guardo como tesouro!).
É uma viagem ao oriente próximo, ao oriente que gostamos de definir como a terra dos bons perfumes e de uma sensualidade comedida, entremeada em camadas de véus, em sua projeção serena e fixação distinta. 



O Elixir da Longa Vida - Essencial Elixir Deo Parfum Natura - Resenha

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Acredito que, atendendo a pedidos, a Natura espertamente o retornou. Na carona da reviravolta chypre que ela tanto domina, depois de anos gourmands, esta experiência iniciada com uma edição limitada volta aos catálogos - ainda não se sabe se por prazo determinado ou não. 
Para construir o bom chypre a receita demanda unir com a maestria de alquimista as cítricas bergamotas, delicadas rosas e jasmins, terroso patchouli em generosas doses, musgo de carvalho e lábdano. A receita atualizada admite musk e evernyl, trazendo ares mais limpos e arejados à umidade da floresta. 
Elixir é o termo alquímico para a poção balsâmica e confortante de efeito mágico, que atribui juventude, cura e longa vida. A busca incessante de Avicenas, a dosagem meticulosa entre veneno e remédio, a transmutação, a pedra filosofal e suas propriedades mágicas. 
Essência e Elixir podem ser sinônimas, palavras irmãs, que denotam uma natureza íntima das coisas, aquilo que é vital e imprescindível. A manifestação fundamental da substância, o conteúdo aromático e resinoso obtido das plantas, não sem motivos, é chamado de essência. 
Essencial Elixir é um bálsamo chypre, floral esverdeado com vapores de patchouli. Segue à risca a cartilha deste estilo, leva todos os seus ingredientes. Há quem o assemelhe ao primoroso Cartier La Panthère, o que bem se aplica. Essencial Elixir leva uma dose mais frutal, quase licorosa, como as peras ao vinho, macias e maduras, cozidas em calda quente. 
Em sua abertura, cítricos fazem festa no nariz, prenunciando a onda floral de jardim, rosas encarnadas e jasmins de fim de tarde, abrindo-se ao luar para exalar o perfume inebriante. Mistério noturno e elegante, que traz refinamento e um ar adulto e autoconfiante. A partir de então o patchouli reina absoluto, como banho de cheiro, morno, picante, amadeirado, beirando o resinoso de incenso. 
É uma poção de sedução, que tem performance respeitável, e que, se não garante a longa vida e a beleza eterna, ao menos oferece um aroma a ser desfrutado com deleite. 
Merece atenção ao ser testado, não é dos mais 'fáceis' por assim dizer. Mas quem já estiver habituado a bons chypres e está em busca de algo criativo, com desempenho digno dos importados, pode seguir neste caminho. 



O último dos românticos - Floratta Red d'O Boticário - Resenha

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As estações do ano são sempre as bússolas das marcas para orientar suas criações. Quando vem a primavera multiplicam-se os florais, os flankers levinhos – l’eau, thé, legère e afins. No verão frutais tropicais e brilhantes, limões aos quilos, maracujás e bebidas geladas. No inverno tudo fica intenso, pesado, denso. Elixires, parfums e extraits carregados de especiarias, fumaças e incensos. Agora o outono, ah, o suave outono. As frutas maduras e a melancolia romântica, suspiros apaixonados dignos de John Keats – o último dos românticos – como bem traduz em sua maravilhosa Ode ao Outono:


“Estação de neblinas, doce e fecunda!

Companheira íntima do sol, com ele vais,

Quando ele abençoa e inunda

De frutos as videiras junto dos beirais”


Quem espera do próximo Floratta Red um bouquet floral, antecipo que não é isso que irá encontrar. Testando pela amostra (beijos Maiarinha!!!) a abertura é mais para verde frutada do que necessariamente floral, um toque de folhas de chá, maçã (aquela mais miúda e azedinha) e algo ardidinho - pimenta rosa talvez? Ao passar na pele logo perde esta cara adstringente e passa ao frutal com floral mais cremoso. Maçã bem madura, da casca vermelha, que faz aquele som oco quando bate. Sementes de romã, jasmins e lírios cremosos, além de flor de pessegueiro – sim, me lembrou um pouco o Floratta Cerejeira em Pétalas, já descontinuado, que levava as mesmas maçãs e flor de cerejeira, mas com uma dose de pera suculenta, que aqui cedeu espaço a algo da romã. Ao assentar na pele manteve a alma Floratta (que também é a cara d’O Boticário) com o quarteto Cedro, Sândalo, Almíscar e Baunilha, que o finaliza levemente adocicado, mas não necessariamente gourmand.

Já que toda a proposta se sustenta na maçã – frasco, estação e construção – é de se pensar para os próximos dias que vão aos poucos encurtando e esfriando. Projeção média na primeira hora e meia, fixação de quatro horas, rente à pele (é classificado pela marca como deocolônia). 


 

“Pra vergar de maçãs a musgosa macieira

E a fruta por inteiro tornar madura

Pra inflar as abóboras, pra avelã ficar gorda

Com uma doce amêndoa; há flores com fartura”






Subo no meu palco, minha alma cheira talco - Narciso Poudrée EDP - Narciso Rodriguez - Resenha

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Sou professora, esse é meu primeiro ofício, o maior de todos. Tem uma alma de jurista, tem uma faceta de perfumista, mas antes de mais nada sou professora. Raras foram as vezes que usei quadro branco, flip chart, e tenho pavor de apresentações em Power Point. Sou old school, ou como meu para sempre mentor e orientador me disse: "seu negócio é 'cuspe e giz'". Amo a lousa, encho o quadro, e ao final da aula lá está ele, cheio de rabiscos, setas e sublinhados, uma obra digna de Kandinsky. Minhas mãos estarão brancas, ombros e cabelos cheios da fina poeira, a roupa foi ganhando uma estampa personalizada ao longo da exposição. É o momento de um pequeno show, de atrair a atenção das jovens mentes inquietas, de competir uma luta desleal contra seus smartphones. É um palco, hora de passar o conteúdo preparado antes, por horas a fio, entre leituras, anotações e pesquisas. Como um roteiro escrito para uma peça, um teatro que leva a intangível teoria para a familiaridade da prática. 
Narciso Poudrée me encanta porque me lembra talco, pó de giz. É seco, mas cheio de ternura, como uma aula, uma sala cheia de calor humano. Não é o talco de cosmético, é um talco com flores mornas, com almíscar vivo, palha crocante do vetiver abrandada pela cumarina. É uma lição de elegância com toques modernos.
Quando a aula começa, a sala ainda está meio vazia, tomada pelo aroma floral das primeiras alunas que chegam arrumadas com todo seu capricho, adornadas por seus perfumes de moça. Assim abre N. Poudrée, em flores brancas e rosas vermelhas. Em seguida, a lição começa a ser passada, os tópicos vão tomando conta do quadro negro - que na verdade é verde - gastando aos poucos os pedaços de giz, levantando sua nuvem talcada, tal qual o almíscar polvoroso e a violeta sequinha, que lembra a pilha de papéis sobre a mesa, e agora que a sala se encheu, o burburinho inevitável toma conta. Hora de acalmar a todos, exigir a atenção e iniciar a explicação, o que é extenuante. Precisa-se da firmeza de um vetiver, da afabilidade da cumarina, da paciência do cedro atlas, e de uma dose de alegria de patchouli. É uma relação de confiança que deve ser estabelecida e fortalecida a cada minuto, sólida, mas alegre, próxima, mas respeitosa. Assim é Narciso Poudrée, delicado, mas tem sua firmeza e constância, tem secura, mas tem algo meigo e familiar. Se estende por oito horas, projetando bem nas duas primeiras. 




E ao final da classe, cansada, exasperada, levo a pilha de cadernos e deixando marcas brancas pelo caminho - "é a minha aura clara, só quem é clarividente pode ver". 



The fuel for fury - Diesel Fuel for Life Femme EDP - Resenha

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Ah, esse meu chypre 'jaqueta jeans'... Apimentado e encorpado, que dá uma dose de ousadia corajosa, um quê boyish que adoro adicionar ao meu visual pixie quando bate um atrevimento. É um sexy meio arredio, e simultaneamente seguro, cheio de si. Meio a cara da Imperatriz Furiosa de Mad Max Estrada da Fúria, que mesmo em meio a toda escuridão de uma camada de graxa e poeira brilham olhos cristalinos, sendo bonito por ser arisco. Não é aquele chypre madame "Eau de Soir", é chypre que beira o unissex, com madeira e noz-moscada que fazem um duelo quente/frio com o patchouli e vetiver bem raiz, em sua face mais fresh. Fixa e projeta como poucos, coisa 8h, que volta e meia reaparece em flashes perfumados.




O ano do Dragão - Le Basier du Dragon de Cartier EDP - Resenha

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O Dragão é uma figura mitológica reverenciadíssima na China. Representa a bondade, a generosidade, a abundância e a cortesia. Ao Dragão reservam-se rituais, incensos e agrados, costume este considerado curioso quando das incursões coloniais inglesas na Ásia. Le Basier du Dragon não é necessariamente um artefato autêntico chinês, está mais para uma peça de chinoiserie, que seleciona os elementos do extremo oriente segundo seu gosto e o transforma em figuras fantásticas e extravagantes conforme um imaginário tipicamente europeu. Como os biombos, estamparias e caixinhas de laca, que repousavam em bibliotecas e vestíbulos das mansões enriquecidas da Era Vitoriana - cujos proprietários provavelmente obtinham enormes lucros com o comércio oriental do chá. 
Sua abertura é medicinal, amarga e alcoólica como os preparados fortificantes receitados pelos médicos experimentados, que cuidavam da saúde dos aristocratas. Tem amêndoa crua, gardênias narcóticas e um bitter de licor. Ganha ares enfumaçados, secos, incensados e macios, graças a uma magistral união de cedro almiscarado e pomada de íris, que arredonda o meio da evolução da fragrância. Ao final, fica um amadeirado levemente caramelado, com traços de benjoim, e algo de cacau em pó, escuro, misterioso, mas ainda assim muito refinado e nobre.
A projeção é comedida, mas a duração extensa, permanecendo rente à pele por umas sete horas, tranquilamente. 



Starways to heaven - Montana Parfum de Peau - EDP e EDT - Resenhas

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Claude Montana foi um dos estilistas que criaram as epítomes oitentistas da moda escultural. Assim como Hervé Léger, Azzedine Alaïa e Thierry Mugler, eles transformaram as mulheres cobertas de jérseis e cetins da era Disco em esculturas pontiagudas de tafetás ou comprimiram-nas nos vestidos-bandagem que lhes evidenciavam cada milímetro das formas. Geometria, cores, arestas. O choque visual ao gosto yuppie, que cinzelou topetes às alturas e ombreiras gigantescas. Exageros bem pensados para demonstrar a ostentação de quem atingiu seu primeiro milhão de dólares antes dos 30. Que, metaforicamente chegou ao último degrau, quem subiu na vida, quem ocupava as penthouses em que se davam festas inenarráveis. No alto, no topo.
Essas duas fragrâncias, cada uma a seu modo, mas com a mesma alma, são escadas espiraladas e esculturais, cheias de incenso e mel. 
Na versão EDP, em seu frasco azul escuro e misterioso, o mel é mais grosso e presente. As fumaças resinadas estão próximas à pele, bem persistentes. Tem mais peso, mais substância. Como seu contemporâneo Byzance de Rochas, é grande e multifacetado. Seus degraus são mais suaves, porém a escada é mais alta, daquela que só de olhar para cima a vista cansa, e deve ser subida passo a passo, com breves pausas ao longo do caminho. É uma evolução lenta, mas nada monótona. Em um degrau aparece um assabonetado cravo, em outro uma crepitante pimenta. Mas o incenso está sempre lá, em seu sentido de per fumum, de fumaça perfumada que sobe aos céus para agradar os deuses. 
O EDT é mais arejado, porém uma escada mais íngreme. Os degraus são mais altos, mas o topo chega mais rápido. Quem estiver disposta(o) a dar o primeiro passo encontra algumas groselhas-pretas, flores brancas narcóticas e melífluas. Do alto da escada escorre mel, doce e cristalino, como uma cortina de vidro, em ponto de calda. Mais adiante mais flores - nervosas - agressivos narcisos, jasmins carnais e rosa damascena vermelho-escura, tinta. Nos últimos degraus os vapores ambarados mesclados ao incenso profano e ao couro sensual. Tem maior rastro, mais presença.  
São semelhantes e diferentes, acho-os fantásticos para demonstrar as diferenças entre EDP e EDT, em que aquele que ganha em longevidade consequentemente abre mão de parte da projeção. Minha versão EDP é vintage, está guardada no escuro, com todo o cuidado, e até o momento não aparenta oxidação ou alteração significativa. O EDT dura de oito a nove horas, com projeção persistente até sua meia vida. O EDP passa tranquilamente das doze horas, ficando mais próximo à pele a partir da terceira. 
Para mulheres que acreditam que tudo que reluz é ouro e que podem comprar uma escada para o paraíso, Claude Montana já mandou a fórmula. 





Um abraço de musk e vida

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Quando criança eu era impávida e independente. Ser a mais nova tem disso, crescer apressadamente tentando acompanhar as irmãs mais velhas, não ficar para trás ou ser rejeitada nas brincadeiras. Desde muito pequena não gostava de abraços, de muito colo – e ser uma menina grandona não tornava as coisas para os adultos muito mais fáceis. Meu negócio era subir em ameixeira e flamboyant ou me equilibrar sobre muros de tijolos, procurar plantas para fazer meus ‘feitiços de bruxa’ e brincar com os cachorros no quintal.

Em uma das minhas primeiras escaladas, aos dois anos e meio mais precisamente, subi na cama de cima do beliche das minhas irmãs. Aquela cama tão alta, tão acima do meu berço de bebê parecia algo incrivelmente diferente, uma etapa acima a vencer, e como parecia divertido demais aquele lugar em que elas faziam de conta que era um navio, ou a torre da princesa a ser salva, galguei os degraus da escadinha e lá fui explorar aquele recanto proibido coberto por uma colcha com estampas da Sarah Kay. O que não contava era que a cama teria uma borda, e dali nada mais a me segurar. O chão de carpete bege claro foi o limite, e a partir de então tudo ficou estranho e escuro.

Entre o contato com parentes em tempos que não havia rede social, smartphones ou localizadores instantâneos, entre a agonia de minha mãe e da babá até que chegasse socorro, entre a emergência do hospital, diagnósticos pouco precisos e a transferência para um centro de referência em uma cidade maior, apenas um corpinho mole era carregado de um lado para outro. Duas letras eram freneticamente gritadas pelos corredores brancos e estéreis, seguidas de outras três: TC e UTI.

Desesperada, minha mãe, molhada das chuvas incessantes dos invernos do Sul, só implorava para que não fechasse os olhos. Sua blusa de lã bege e preta, a saia rodada cor de camurça combinada com as botas sem salto, o relógio de pulseira gris clara, a mesma cor dos cabelos louro acinzentados. Mal chegara aos trinta anos, e já sabia mais de amor do que qualquer pessoa nesse mundo. Cheirava a almíscar suave, uma mãe corça desesperada pela cria. E chovia cada vez mais.

De todas a mais parecida, o mesmo olho verde puro, sem outro tom ao meio, apenas um ou outro salpicado dourado próximo à menina. O mesmo cabelinho, parte mais claro e liso, parte mais cacheado e escuro, e o mesmo pescoço longo. E ali estava sem saber se haveria um amanhã. Soltou a mão da maca, sentou na saleta com uma televisão pequena e feia, e entregou-se à reza e à espera.

- Se ela passar desta noite, se o inchaço ceder e as funções retornarem, veremos quais serão os próximos passos. Não sabemos como ficará a visão, a fala e os movimentos, mas ainda é muito cedo para uma conclusão.

Foi com esse recado que o neuropediatra autorizou que ficasse junto ao leito. E ali, conversando com sua homônima, passou a noite, com a chuva indo embora cedendo seu lugar a uma geada de julho.

Minha primeira lembrança - não só do retorno do coma, mas de toda minha vida - começa aqui. Senti o confortável cheiro do Musc da L’Arc en Ciel ao meu lado. Abri os olhos e disse:

- Tem um pinguinho rápido e um devagar, mamãe.

Ela levantou a cabeça, exausta que estava em seu cochilo à beira da cama, e com os olhos verdes e serenos disse:

- Sim, cada pinguinho corre diferente meu amor.

Eram os medicamentos junto à bolsa de soro, a primeira coisa que meus olhos conseguiram ver, seguidos dos seus olhos e dos cabelos cinzentos. Aliviada, me abraçou em sua maciez de lã e almíscar, com algo de sândalo e aldeídos. A partir dali a esperança voltou, e logo fomos retomando nossos dias, passado o pavor inicial. Depois daquele abraço, eu sabia para onde voltar. Esse, para mim, se tornou o perfume de que tudo de alguma forma ficará bem.






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